Isaria: aliado biológico contra mosca‑branca


Introdução

A mosca‑branca (Bemisia tabaci) segue causando dores de cabeça em soja, hortaliças e frutíferas. O controle químico excessivo gerou resistência, elevou custos e preocupações ambientais. Por isso, o interesse por controle biológico cresceu, destacando o fungo entomopatogênico Isaria, recentemente reclassificado como Cordyceps.

1. O que é Isaria?

  • Isaria fumosorosea e Isaria javanica (sin. Cordyceps fumosorosea e C. javanica) são fungos que parasitam insetos.
  • Produzem milhões de conídios (esporos) que aderem à cutícula cerosa da praga, germinam e invadem o corpo, causando mortalidade em poucos dias.
  • Após a morte do inseto, o micélio emerge, forma nova massa de esporos e espalha‑se, gerando efeito epizoótico que amplia o controle.

2. Como o fungo age?

  1. Adesão: conídios grudam na cutícula rica em lipídios.
  2. Germinação: sob umidade ≥ 65 % e temperaturas entre 25 – 30 °C, o fungo germina rapidamente.
  3. Penetração: enzimas (proteases, quitinases, lipases) rompem a cutícula.
  4. Colonização: o fungo prolifera no hemocele, drena nutrientes e libera toxinas.
  5. Sporulação: cadáver fica coberto por um “bolor” rosado ou branco, liberando novos conídios.

3. Resultados de pesquisas recentes

  • Suspensões de I. fumosorosea (1 × 10⁸ conídios mL⁻¹) alcançaram 94,6 % de mortalidade de ovos e ninfas de mosca‑branca em pepino sob 70 % UR.
  • Isolado gaúcho C. javanica (BRM 27666) reduziu 96 % das ninfas em soja, com dose única de 1 × 10¹² conídios ha⁻¹.
  • Cepa Wf GA17 de C. javanica manteve alta viabilidade no campo por 14 dias pós‑aplicação e controlou > 85 % das ninfas em algodão.
  • Estudo malásio mostrou que I. javanica (1 × 10⁸ conídios mL⁻¹) matou 80 % dos adultos e 90 % das ninfas em tomate em oito dias.
  • Microsclerócios de C. javanica suportaram 55 °C por 3 h e mantiveram 100 % de viabilidade após um ano de armazenamento, indicando excelente shelf‑life para formulações.

4. Vantagens no manejo integrado

  • Seletividade: não afeta parasitoides Encarsia e Eretmocerus.
  • Compatibilidade: pode ser alternado com inseticidas seletivos (ex.: flupiradifurona). Estudos in vitro mostram boa tolerância a vários agroquímicos, facilitando programas de rotação.
  • Sustentabilidade: ausência de resíduos, sem período de carência.
  • Registro no Brasil: produtos WP ou WG com 1 × 10¹²–10¹³ conídios kg⁻¹ já estão disponíveis.

5. Dicas de aplicação

  1. Momento: pulverizar nos primeiros focos, mirando ovos e ninfas.
  2. Clima: priorizar aplicação ao entardecer ou amanhecer, quando temperatura e umidade estão ideais.
  3. Volume de calda: ≥ 200 L ha⁻¹ para cobrir bem a face inferior das folhas.
  4. pH: manter entre 6,5 e 7,5 para conservar a viabilidade dos conídios.
  5. Adjuvantes: óleos vegetais ajudam a fixar esporos em folhas cerosas.
  6. Intervalo: repetir a cada 7–10 dias, conforme pressão da praga e condições climáticas.

6. Perguntas frequentes

Isaria controla outras pragas?
Sim, há registros sobre trips, ácaros e cigarrinhas, mas a mosca‑branca continua sendo o principal alvo comercial.

Funciona em estufas?
Funciona ainda melhor, pois umidade e temperatura são mais estáveis.

Posso misturar com fungicidas?
Evite triazóis ou estrobilurinas na mesma calda; faça aplicações separadas com intervalo de 48 h.

Conclusão

O uso de Isaria/Cordyceps em programas de manejo integrado de pragas oferece controle eficiente da mosca‑branca, reduz dependência de inseticidas sintéticos e contribui para sistemas agrícolas mais sustentáveis. Seguir boas práticas de aplicação maximiza a eficácia e prolonga os benefícios no campo.


Referências

  1. Smith, J. et al. 2023. Control of sweet potato whitefly using entomopathogenic fungi. Pest Management Science. (PubMed)
  2. Avery, P. B. et al. 2023. Post‑application field persistence and efficacy of Cordyceps javanica Wf GA17. Journal of Invertebrate Pathology. (PMC)
  3. Lee, C. Y. et al. 2023. Identification and virulence of Isaria javanica against Bemisia tabaci. Egyptian Journal of Biological Pest Control. (SpringerOpen)
  4. Zhou, L. et al. 2024. In vitro response of Cordyceps javanica to insecticides and fungicides. Journal of Fungi. (PMC)
  5. Andrade, G. et al. 2024. Temperature‑dependent modeling for Cordyceps javanica BRM 27666. Fungi. (MDPI)
  6. Ramos, P. et al. 2025. Microsclerotia formation of Cordyceps javanica enhances field stability. Frontiers in Microbiology. (Frontiers)

Tabela – Principais pesquisas sobre Isaria/Cordyceps contra mosca‑branca

Espécie / CepaCultura avaliadaDose de conídiosMortalidade (%)CondiçõesReferência
I. fumosorosea (sem isolado)Pepino1 × 10⁸ mL⁻¹94,6 (ovos/ninfas)70 % UR, 26 °CSmith et al. 2023
C. javanica Wf GA17Algodão1 × 10¹² ha⁻¹> 85 (ninfas)Campo, verãoAvery et al. 2023
I. javanica (isolado malásio)Tomate1 × 10⁸ mL⁻¹80 (adultos); 90 (ninfas)Estufa, 27 °CLee et al. 2023
C. javanica BRM 27666Soja1 × 10¹² ha⁻¹96 (ninfas)25 – 30 °CAndrade et al. 2024
C. javanica IJ‑tg19LaboratórioViável após 55 °C/3 hTeste de estresseRamos et al. 2025