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Fungicidas Biológicos: Alternativa Segura a Protetores

Por que Trocar Mancozebe e Clorotalonil por um Fungicida Biológico de Bacillus?

Imagine aumentar a produtividade da sua lavoura de soja e milho, controlando doenças de forma eficaz e sustentável. Este é o pitch: substituir os fungicidas protetores tradicionais – mancozebe e clorotalonil – por um fungicida biológico à base de Bacillus (como B. pumilus, B. velezensis ou B. amyloliquefaciens). A seguir, apresentamos dados científicos que comprovam os benefícios dessa troca em termos de proteção contra doenças e ganhos de produtividade, com tabelas ilustrando resultados em soja e milho.

Limitantes dos Protetores Químicos (Mancozebe e Clorotalonil)

Os fungicidas protetores mancozebe e clorotalonil são amplamente utilizados no manejo de doenças em diversas culturas. Eles agem por contato, prevenindo infecções fúngicas, e têm sido utilizados, por exemplo, contra a ferrugem asiática da soja e manchas foliares em milho. Contudo, enfrentam limitações importantes:

  • Riscos à saúde e ambiente: Mancozebe é classificado como desregulador endócrino e tóxico reprodutivo, levando à sua proibição na União Europeia. Já o clorotalonil foi banido na UE em 2019 devido ao alto risco de contaminação de águas e impactos na fauna aquática. Essas preocupações refletem possíveis restrições futuras e pressão regulatória sobre seu uso.
  • Impacto em organismos benéficos: Por serem fungicidas de amplo espectro, podem afetar microrganismos úteis. Estudos mostram que clorotalonil é incompatível com fungos benéficos do gênero Trichoderma (usados como bioagentes), inibindo severamente seu crescimento. Da mesma forma, o uso de fungicidas químicos no tratamento de semente pode reduzir a sobrevivência de rizóbios inoculantes (bactérias fixadoras de nitrogênio) nas sementes de soja, prejudicando a nodulação. Ou seja, ao usar mancozebe/clorotalonil, o produtor muitas vezes não consegue aproveitar inoculantes bacterianos ou fungos benéficos, pois esses protetores os eliminariam.
  • Eficácia limitada e resistência: Embora úteis como barreira protetora, mancozebe e clorotalonil não conferem ação sistêmica e podem apresentar eficácia limitada em algumas doenças. Por exemplo, observou-se que mancozebe isoladamente teve pouco impacto em certas doenças foliares da soja (controle <60%), enquanto outras estratégias foram mais eficazes. Além disso, apesar de atuarem em múltiplos alvos (o que reduz risco de resistência), eles não promovem mecanismos ativos de defesa na planta nem apresentam efeitos pós-infeccionais significativos.
  • Resíduos e exigências de mercado: Resíduos desses fungicidas nos grãos podem ser um problema para exportação. O clorotalonil, por exemplo, não tem usos aprovados em mercados exigentes, e seu resíduo pode limitar o acesso a certos países. Já os biológicos não deixam resíduos tóxicos relevantes, facilitando o atendimento a padrões internacionais.

Diante desses desafios, surgem os fungicidas biológicos à base de Bacillus como uma solução inovadora.

Fungicidas Biológicos (Bacillus spp.) – Eficácia Natural e Sustentável

Os biofungicidas formulados com bactérias do gênero Bacillus aproveitam o poder da natureza no controle de patógenos. Como funcionam e quais suas vantagens?

  • Múltiplos mecanismos de ação: Cepas de Bacillus produzem compostos antimicrobianos (lipopeptídeos, enzimas hidrolíticas, etc.) que inibem o crescimento de fungos fitopatogênicos. Por exemplo, um estudo recente demonstrou que Bacillus velezensis produz enzimas (celulase, protease, amilase) e fito-hormônios que destroem a parede celular de patógenos e ainda induzem genes de defesa da planta. Essa combinação de ação direta e indução de resistência torna o biológico eficaz tanto de forma protetora quanto curativa, reduzindo significativamente lesões foliares mesmo após a infecção.
  • Controle equivalente aos químicos: Longe de ser “placebo”, os Bacillus já demonstraram eficácia igual à de fungicidas tradicionais. Em uma prova de campo, um produto à base de Bacillus subtilis (estirpe QST 713, comercial “Serenade®”) substituiu aplicações de mancozebe no controle de doença foliar de bananeira. O resultado: desempenho equivalente ao mancozebe na proteção, dentro de um programa fungicida integrado. Isso evidenciou que um biofungicida pode atuar como fungicida protetor de alto nível, porém com perfil ambiental e toxicológico muito superior.
  • Segurança e seletividade: Produtos à base de Bacillus têm excelente perfil toxicológico – seguros ao aplicador, à fauna benéfica e ao meio ambiente. Por serem organismos vivos especializados em suprimir patógenos, eles não afetam adversamente insetos polinizadores, inimigos naturais ou microorganismos úteis (sua seletividade foi comprovada em diversos estudos). Isso permite integrar o fungicida biológico com outras tecnologias (por exemplo, inoculantes de rizóbio, Trichoderma, etc.) sem conflitos – Bacillus convive bem com outros benéficos, ao contrário dos químicos.
  • Ferramenta contra resistência: Cada cepa de Bacillus pode produzir dezenas de metabólitos antifúngicos diferentes, dificultando a seleção de patógenos resistentes. Esse modo de ação multifacetado é ideal para manejo anti-resistência, complementando fungicidas sítio-específicos. Como observado por pesquisadores, os lipopeptídeos de Bacillus atuam em estágios vulneráveis do fungo (como germinação de esporos), somando-se à proteção sem sobrepor o modo de ação de produtos químicos. Em suma, usar Bacillus no programa reduz a pressão de seleção sobre os fungicidas convencionais.

Em síntese, os biológicos à base de Bacillus oferecem controle eficaz, seguro e sustentável. A seguir, apresentamos resultados científicos em soja e milho que embasam essa recomendação de troca.

Resultados Comprovados em Soja

A cultura da soja, carro-chefe no Brasil, sofre com doenças foliares graves – principalmente a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi), capaz de dizimar lavouras. Para contê-la, produtores costumam aplicar fungicidas sistêmicos (triazóis, estrobilurinas, etc.) reforçados por protetores (mancozebe ou clorotalonil). Como o Bacillus pode entrar nesse manejo? De forma muito positiva, segundo as pesquisas.

Um estudo de dois anos no Brasil avaliou aplicações foliares de um produto comercial à base de Bacillus (formulado com B. subtilis) em comparação ou em combinação com fungicidas químicos tradicionais. Os principais achados estão resumidos na Tabela 1:

Tabela 1. Controle da ferrugem asiática e produtividade da soja: Fungicida químico vs. biológico (dados de Santos et al., 2022).

Programa de ControleRedução da Severidade da Ferrugem¹Controle de Outras Doenças¹Ganho de Produtividade²
Sem fungicida (controle)100% (doença sem controle)
Químico (Sistêmico + Mancozebe)−82% vs. controle>60% redução+25% vs. controle
Biológico (Sistêmico + Bacillus spp.)−82% vs. controle>60% redução+25% vs. controle

¹ Redução relativa em comparação ao controle sem tratamento.
² Aumento percentual na produção de grãos em relação ao controle.

Como se observa, substituir o protetor químico pelo biológico não sacrificou em nada o desempenho. Tanto o programa com mancozebe quanto com Bacillus obtiveram cerca de 82% de redução na severidade da ferrugem asiática em campo. Além disso, o biofungicida contribuiu para suprimir outras doenças foliares secundárias (mancha-alvo, crestamento, oídio, etc.) em mais de 60%, desempenho semelhante ou superior ao do mancozebe isolado. Um benefício extra do Bacillus foi notado na qualidade das sementes: a incidência de Fusarium nos grãos colhidos foi significativamente menor quando o Bacillus foi usado, indicando sementes mais sãs e vigorosas para plantio.

Em termos de produtividade, os tratamentos com fungicida biológico aumentaram o rendimento em ~25% sobre plantas não tratadas – o mesmo ganho obtido com fungicidas convencionais. Ou seja, em soja o produto biológico propiciou o mesmo patamar de produtividade que o manejo químico tradicional, validando sua eficácia agronômica.

Vale destacar que esses resultados não são caso isolado. Diversos estudos apontam benefícios consistentes do uso de Bacillus em soja: em uma ampla avaliação multi-local, a inoculação com duas cepas de Bacillus (incluindo B. subtilis) elevou os rendimentos de soja em 175 dos 181 sítios testados, com ganho médio de +6,3% na produtividade. Esses bioinsumos têm também efeito promotor de crescimento – solubilizando fósforo e produzindo fitohormônios – o que contribui para plantas mais saudáveis e produtivas. Em resumo, na cultura da soja os fungicidas biológicos à base de Bacillus protegem contra as principais doenças e ainda agregam aumento de produtividade, respaldados por dados científicos.

Resultados Comprovados em Milho

No milho, doenças foliares como a mancha de Helmintosporiose (ex.: Exserohilum turcicum causador da mancha branca, e Bipolaris maydis da mancha de Turcicum) e a queima das folhas (como a Cochliobolus heterostrophus, causadora da Southern Corn Leaf Blight) podem reduzir significativamente a produção. A boa notícia é que os Bacillus também têm se provado aliados poderosos no controle dessas enfermidades do milho.

Pesquisas recentes identificaram estirpes de Bacillus com forte ação contra patógenos do milho. Por exemplo, o Bacillus velezensis cepa JLU-55, isolado do solo rizosférico do milho, demonstrou atividade antifúngica de amplo espectro contra C. heterostrophus (queima das folhas) e E. turcicum (mancha foliar), entre outros. Em testes in vivo, essa cepa reduziu significativamente o desenvolvimento de lesões foliares de queima das folhas, funcionando bem tanto como tratamento preventivo quanto curativo (pós-infecção). Ou seja, mesmo quando aplicado após o patógeno infectar, o Bacillus conteve a expansão das lesões, algo que nem todos fungicidas químicos conseguem fazer. Esses resultados indicam que B. velezensis pode proteger a cultura do milho de forma eficaz e ambientalmente amigável, controlando doenças importantes.

Do ponto de vista de produtividade, a integração de Bacillus no manejo do milho tem trazido ganhos significativos. Alguns exemplos documentados:

  • Em estudos de campo, cepas de Bacillus promoventes de crescimento (como B. subtilis, B. pumilus e B. mojavensis) aumentaram a produtividade de milho em torno de +12% a +16% em relação às plantas sem tratamento. Por exemplo, B. pumilus proporcionou +11,8% de grãos e B. subtilis +13,8%, comparado ao controle. Esses incrementos são atribuídos tanto ao efeito de controle de doenças quanto à melhoria nutricional e de enraizamento proporcionada pelos bacilos.
  • A Embrapa reportou que uma formulação comercial contendo B. subtilis + B. megaterium gerou aumento médio de 8,6% na produtividade do milho (avaliado em diversos locais do Brasil). Importante: em 100% dos sítios testados houve incremento (ou seja, nunca desempenho inferior ao controle), mostrando confiabilidade do biológico.
  • Bacillus também atuam na sanidade geral da planta de milho. Além de reduzir doenças foliares, certas cepas suprimem patógenos de solo (como Fusarium spp.), resultando em milho com sistema radicular mais robusto e melhor absorção de nutrientes. Isso se traduz em plantas mais vigorosas, menos estressadas e, consequentemente, maior produtividade.

Em comparação, fungicidas químicos protetores no milho oferecem controle, mas sem os benefícios adicionais de promoção de crescimento. Enquanto um protetor químico age passivamente, o Bacillus ativa a planta e melhora seu desenvolvimento, criando um duplo impacto positivo (saúde + rendimento). Cabe notar que, assim como na soja, os biofungicidas podem ser usados junto com fungicidas sistêmicos quando necessário. Há casos em outras culturas em que Bacillus superou padrões: p.ex., B. velezensis cepa BUZ-14 controlou doenças em videira melhor que produtos comerciais de Trichoderma e até mesmo comparado a fungicidas químicos, mostrando desempenho destacado. Esses resultados reforçam que os Bacillus têm potencial de igualar ou superar fungicidas convencionais no controle de doenças, também no milho.

Vantagens Adicionais: Sustentabilidade e Flexibilidade no Manejo

Além do controle fitossanitário e da produtividade, migrar dos protetores químicos para um fungicida biológico de Bacillus traz uma série de benefícios agregados ao sistema de produção. Destacamos a seguir os principais, conforme evidências científicas:

  • Segurança para o Aplicador e Ambiente: Os biofungicidas de Bacillus possuem toxicidade extremamente baixa a humanos e animais não-alvo. Estudos destacam seu excelente perfil toxicológico, garantindo segurança ao trabalhador rural e ao consumidor final. Não geram resíduos indesejáveis nos grãos ou no meio ambiente – por isso não enfrentam restrições de exportação por resíduos e apresentam carência (intervalo de reentrada) curta, em torno de 4 horas apenas. Em suma, é uma solução ecológica, alinhada às boas práticas e à demanda por alimentos mais seguros.
  • Compatibilidade com Outros Insumos Biológicos: Ao adotar Bacillus, o produtor pode combinar tecnologias sem prejuízo. Por exemplo, pode-se tratar a semente com inoculante de Bradyrhizobium e biofungicida juntos, ou aplicar Trichoderma no solo, sem que o fungicida biológico mate essas culturas benéficas – diferentemente do mancozebe/clorotalonil que as eliminariam. Pesquisas mostram que certas formulações de Bacillus têm compatibilidade comprovada com outros microrganismos benéficos do agroecossistema. Isso viabiliza um manejo integrado mais rico, unindo fixação biológica de nitrogênio, controle biológico de solo e proteção foliar, tudo no mesmo pacote tecnológico.
  • Manejo Integrado de Resistência: Como já mencionado, Bacillus atua por múltiplos compostos e até estimula defesas da planta, o que dificulta o surgimento de resistências nos patógenos. Ao substituir o protetor químico pelo biológico em parte das aplicações, reduz-se a pressão de seleção sobre fungos alvo. O Bacillus torna-se um aliado dos fungicidas sistêmicos, prolongando sua vida útil. Especialistas enfatizam que esses biofungicidas oferecem benefício em gestão de resistência quando rotacionados em programas de pulverização.
  • Flexibilidade e Conveniência: Fungicidas biológicos oferecem uma experiência de manejo mais flexível. Por serem estáveis na forma de esporos, podem ser misturados em tanque com diversos produtos (inseticidas, foliares, etc.) sem perder efetividade. Têm uso liberado em diferentes estádios da cultura (podendo aplicar em R1, R3 na soja, por exemplo, conforme necessidade). E ainda agregam benefícios logísticos: não exigem tempo de carência para colheita e não causam fitotoxicidade. Tudo isso contribui para simplificar o manejo, economizar tempo e dar mais opções ao produtor.
  • Custo-Benefício Positivo: E quanto ao custo? Muitos produtores se perguntam se o biológico “vale a pena” financeiramente. A resposta, segundo as pesquisas, é sim. O preço dos bioinsumos Bacillus tem se tornado competitivo e, em geral, são mais baratos ou equivalentes ao custo de fungicidas químicos por hectare. Mesmo quando o custo inicial é similar, o retorno econômico tende a ser maior, pois há ganhos de produtividade e redução de outras despesas (como menor necessidade de fertilizantes graças ao efeito PGP – promoção de crescimento). Sem contar os ganhos intangíveis: preservação do solo, da água e da saúde, que no longo prazo se traduzem em sustentabilidade da produção. Como aponta Hungria et al. (2024), “mesmo que não haja diferença de custo imediato, os benefícios ambientais devem ser valorizados e sempre pendem a favor dos biológicos”. Em outras palavras, investir em biológico retorna em produção e sustentabilidade.

Em conclusão, trocar mancozebe e clorotalonil por um fungicida biológico à base de Bacillus é uma decisão inteligente e embasada em ciência. Você manterá – ou até melhorará – o controle de doenças na soja e no milho, conforme demonstrado por reduções de doença de 60–80% equivalentes aos padrões químicos. Colherá uma safra mais farta, com aumentos de produtividade que podem chegar a dois dígitos percentuais. E, de quebra, adotará um manejo mais seguro, sustentável e integrado, que permite usar outros bioinsumos livremente e prepara sua lavoura para os desafios futuros (como exigências ambientais e resistência de patógenos).

Em um mercado cada vez mais voltado à sustentabilidade, o fungicida biológico de Bacillus desponta como uma ferramenta moderna que une alta performance e responsabilidade socioambiental. Os dados científicos apresentados são claros: é possível, sim, proteger soja e milho com biológicos e obter alto desempenho – sem os “efeitos colaterais” dos protetores químicos. Portanto, este é um convite para inovar no manejo fitossanitário: experimente substituir seus protetores tradicionais por um Bacillus e colha os resultados positivos na lavoura e no planeta!

Fontes: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10672005/#:~:text=Replacing%20Mancozeb%20with%20Alternative%20Fungicides,In%20a

https://www.researchgate.net/publication/283879943_The_use_of_Bacillus_subtilis_QST_713_and_Bacillus_pumilus_QST_2808_as_protectant_fungicides_in_conventional_application_programs_for_black_leaf_streak_control#:~:text=,

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40922088/#:~:text=mechanisms,metabolites%2C%20two%20of%20which%20were

Tabela: https://scijournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ps.7104

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