Bradyrhizobium: guia completo da reinoculação no V4 da soja
Quem digita Bradyrhizobium (ou o popular “bradium”) no Google quer uma maneira barata de turbinar a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) da soja. A reinoculação aos quatro trifólios abertos (V4) virou a estratégia‑chave quando a inoculação na semente falha ou quando o produtor busca um “segundo fôlego” de nitrogênio durante o ciclo (Infoteca Embrapa).
Breve história no Brasil
Nos anos 1970, as pesquisas de Johanna Döbereiner provaram que rizóbios tropicais podiam suprir quase todo o N da soja em solos pobres, dispensando grande parte da ureia e abrindo caminho para a cultura no Cerrado (Infoteca Embrapa). Desde então, a Embrapa recomenda inoculação anual e, mais recentemente, coinoculação com Azospirillum para ganhos extras de produtividade.
Como funciona a simbiose
Raízes jovens liberam flavonoides que ativam genes nod na bactéria. Ela sintetiza fatores Nod, o pêlo radicular se curva, forma‑se o fio de infecção e o nódulo. Dentro dele, o Bradyrhizobium converte N₂ em NH₃ sob baixa concentração de O₂ controlada pela leghemoglobina, recebendo açúcares da planta em troca.
Por que reinocular no V4?
- Fungicidas na semente, seca inicial, pH adverso ou inoculante de baixa qualidade podem reduzir nódulos.
- No V4, raízes secundárias estão ativas; pulverizar o inoculante na entrelinha aumenta a população bacteriana perto dessas raízes.
- Ensaios em Roraima mostraram que aplicar 3 doses 18 DAE elevou nodulação, matéria seca e N acumulado a níveis equivalentes a 200 kg N ha‑¹ (Infoteca Embrapa).
Principais estudos de reinoculação pós‑emergência
# | Fonte | Local / Estádio | Resultado‑chave | Ganho em grãos* |
---|---|---|---|---|
1 | Zilli et al., 2008 | Roraima, 18 DAE | Nodulação ↑; N igual à adubação | +6 % |
2 | Zago et al., 2018 | PR, 1500 mL ha⁻¹ | +18 sacas ha⁻¹ | +18 % |
3 | Kraemer, 2023 | SC, VC‑V4 | Nodulação ↑36 %; produtividade estável | 0 – 2 % |
4 | Embrapa CT 212, 2024 | PR multissítios | Recomendação oficial; média | +4 – 8 % |
5 | Cir. Téc. 35, 2001 | Diversos | Respostas de 4 – 23 % em solos novos | +4 – 23 % |
*Comparado à inoculação apenas na semente.
Benefícios confirmados
- Supre a maior parte do nitrogênio da soja e reduz custos.
- Mantém fluxo contínuo de N, enchendo grãos e preservando proteína.
- Deixa N residual para a rotação de culturas.
Potenciais extras (ainda em estudo)
- Solubilização de fosfato – algumas estirpes exibem o efeito in vitro, mas em campo a resposta é modesta; a coinoculação com solubilizadores é a aposta mais promissora.
- Ação contra nematoides – resultados ainda contraditórios; depende da estirpe e do hospedeiro.
- Interação com fungos – coinoculação Bradyrhizobium + Bacillus já reduziu a Cercospora sem afetar a FBN.
- Influência em insetos – efeitos indiretos via nutrição; não substitui inseticidas.
Mitos comuns
- “Reinocular sempre aumenta sacas” – o ganho médio é modesto em áreas já bem noduladas.
- “Serve como nematicida ou fungicida completo” – ainda não.
- “Pode misturar com qualquer agroquímico” – a maioria dos inoculantes é sensível a pH extremo e UV; aplique no fim da tarde em água limpa.
Boas práticas de aplicação
- Usar produto registrado e dentro do prazo.
- Dose mínima: 2,5 – 3 doses ha⁻¹ via pulverização.
- Voltar em 48 h para checar umidade; se o solo estiver seco, irrigar ou aumentar o volume de calda.
- Monitorar nódulos 10 dias após a aplicação – sem milagre, só ciência.
Conclusão
Bradyrhizobium continua o pilar da FBN na soja. Reinocular no V4 é um seguro barato quando a nodulação inicial falha, entregando em média 4 – 8 % de produtividade extra e podendo chegar a dois dígitos sob estresse. Efeitos adicionais contra nematoides, fungos ou na solubilização de nutrientes existem, mas dependem da estirpe, do ambiente e de coinoculação correta.
Fontes consultadas
- Zilli et al., 2008 – SciELO Brasil
- Zago et al., 2018 – ResearchGate
- Kraemer, 2023 – Repositório UFSC
- Circular Técnica 212 – Embrapa, 2024
- Circular Técnica 35 – Embrapa, 2001
- scialert.net, 2002
- Nature, 2025
- J‑STAGE, 1990
- PubMed, 2017
Links
(1) https://www.scielo.br/j/pab/a/5GZPMbWrYr7pcL7N7Bf4MJn
(2) https://www.researchgate.net/publication/329809968
(3) https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/252445
(4) https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1170327/1/Circ-Tec-212.pdf
(5) https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/459673/1/circTec35.pdf
(6) https://scialert.net/abstract/?doi=pjbs.2002.669.671
(7) https://www.nature.com/articles/s41598-025-92798-9
(8) https://www.jstage.jst.go.jp/article/jgam1955/36/2/36_2_81/_article
(9) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28643122/