Bacillus velezensis e por que interessa à bananicultura
Bacillus velezensis vem ganhando espaço como alternativa biológica para o manejo de doenças da banana, sobretudo a murcha‑de‑Fusarium, ao mesmo tempo em que estimula o crescimento das plantas e melhora a eficiência de uso de nutrientes. Estudos recentes descrevem isolados capazes de reduzir severidade da doença em campo e pós‑colheita, induzir respostas de defesa, formar biofilme radicular estável e até trabalhar em sinergia com compostos simples como sorbato de potássio. A seguir, apresento um panorama acadêmico das descobertas mais relevantes e recomendações práticas para uso dessa bactéria na cultura.
O que é Bacillus velezensis e por que interessa à bananicultura
B. velezensis é uma rizobactéria gram‑positiva que produz lipopeptídeos (iturina, fengicina, surfactina) e enzimas capazes de inibir fitopatógenos e ativar vias de defesa na planta (Nature, Cadena SER).
No solo bananeiro, diversos isolados foram detectados naturalmente, sugerindo adaptação ao nicho da Musa spp. (PubMed, PMC).
Principais doenças‑alvo
Murcha‑de‑Fusarium (Foc TR4)
- Isolado EB1, aplicado com 0,2 % de sorbato de potássio, reduziu em 67 % a incidência da murcha em viveiro e aumentou biomassa de plântulas (BioMed Central).
- Cepa YEBBR6, usada no bioendurecimento de mudas, promoveu crescimento e disparou genes de defesa, além de parasitar hifas do patógeno (Frontiers).
- Isolado X5 acionou diferentes rotas metabólicas em cultivares resistentes e suscetíveis, elevando lignificação radicular e fenilpropanoides (PMC).
- A cepa HN03 suprime o TR4 modulando a microbiota conforme a disponibilidade de nutrientes no solo (Frontiers).
- LG14‑3 mostra forte quimiotaxia aos exsudatos radiculares de banana, facilitando colonização e controle da doença (MDPI).
Podridão e antracnose pós‑colheita
B. velezensis isolada de frutos controlou antracnose in vivo, superando fungicidas de referência e mantendo qualidade do fruto por até 12 dias (Sistema de Dados Astrofísicos).
Benefícios fisiológicos adicionais
- A cepa YN2111 elevou a expressão de amine‑oxidase, atenuando estresse oxidativo nas raízes (PMC).
- Inóculo HN03 melhorou arquitetura radicular e eficiência de uso de nitrogênio sob deficiência de N ₂ (ScienceDirect).
- Biofilmes densos formados por YEBBR6 e outros isolados ampliam absorção de água e nutrientes (ResearchGate).
Mecanismos de ação
- Produção de lipopeptídeos antifúngicos (iturina, fengicina, surfactina) (apsjournals.apsnet.org).
- Competição por espaço e nutrientes na rizosfera (MDPI).
- Indução sistêmica de resistência (fenilpropanoides, lignina, PR‑genes) (PMC).
- Modulação da comunidade microbiana benéfica em torno das raízes (Frontiers).
Estratégias de aplicação em campo
| Estratégia | Momento | Dose/volume sugerido | Evidência | Observação |
|---|---|---|---|---|
| Bioendurecimento de mudas com suspensão 10⁸ UFC mL⁻¹ | 24–48 h antes do plantio | 100 mL mudinha⁻¹ | (Frontiers) | Melhora pegamento e reduz TR4. |
| Drench no sulco de plantio | Dia do plantio | 5 L solução 10⁸ UFC ha⁻¹ | (BioMed Central) | Pode ser combinado a sorbato de K. |
| Pulverização foliar pré‑colheita | 30 e 15 dias antes da colheita | 1 × 10⁸ UFC mL⁻¹ | (Sistema de Dados Astrofísicos) | Reduz antracnose pós‑colheita. |
| Aplicação via fertirrigação | Mensal | 2 L inoculante/ha | (ScienceDirect) | Aumenta eficiência do N. |
Limitações e pontos de atenção
- Desempenho depende do pH e da matéria orgânica do solo (Frontiers).
- Formulações comerciais variam em concentração e viabilidade; exigir análise de UFC antes da compra.
- Integrar com boas práticas de higiene de solo para evitar re‑infestação por TR4.
Conclusão
Os trabalhos acadêmicos comprovam que Bacillus velezensis é uma ferramenta versátil para a bananicultura, atuando tanto na proteção contra murcha‑de‑Fusarium e antracnose quanto na promoção de crescimento. Combinações com aditivos simples, ajustes nutricionais do solo e tratamentos de muda potencializam seus efeitos. O próximo passo é padronizar doses, cronograma de aplicação e validação em diferentes ambientes tropicais do Brasil para maximizar os resultados.
