Azospirillum: Economize 25% em Fertilizante Nitrogenado
A Revolução Silenciosa dos Campos Brasileiros
Imagine reduzir um quarto dos seus gastos com fertilizante nitrogenado enquanto ainda aumenta a produtividade da sua lavoura. Parece impossível? Para milhares de produtores brasileiros, essa já é uma realidade graças ao Azospirillum brasilense, uma microscópica bactéria que está transformando a agricultura nacional.
O Que É Azospirillum brasilense?
O Azospirillum brasilense é uma bactéria de vida livre encontrada no solo, principalmente na rizosfera, região próxima às raízes das plantas. Esta bactéria promotora de crescimento vegetal (BPCV) possui duas características extraordinárias que a tornam um verdadeiro tesouro para a agricultura moderna.
Primeiro, ela fixa nitrogênio atmosférico, convertendo-o em formas que as plantas podem absorver. Segundo, produz fitohormônios como auxinas, giberelinas e citocininas, que estimulam o crescimento do sistema radicular das plantas.
As Estirpes Campeãs: Ab-V5 e Ab-V6
Entre as diversas estirpes de Azospirillum brasilense, duas se destacam no cenário brasileiro:
- ABV5: Mais eficiente na fixação biológica de nitrogênio
- ABV6: Especializada na produção de fitohormônios
Resultados de pesquisas conduzidas pela Embrapa Soja (PR) nos últimos dez anos mostram que a inoculação de sementes de milho com a bactéria Azospirillum brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6) permite a redução de 25% da adubação nitrogenada de cobertura.
Os Números Que Impressionam
Milho: A Prova dos Resultados
A tecnologia de inoculação do milho com a bactéria Azospirillum brasilense propicia redução na adubação nitrogenada de cobertura e ainda permite um incremento médio de 3,1% na produtividade de grãos. Mas os benefícios vão muito além da produtividade:
- Redução de fertilizante: 25% menos nitrogênio em cobertura
- Aumento de produtividade: 3,1% em média
- Crescimento radicular: 12,1% mais massa de raízes
- Economia financeira: R$ 260 por hectare
- Benefício ambiental: Redução de 236 kg de CO2 equivalente por hectare
Meta-Análise Reveladora
Após uma década de estudos, a análise de resultados de 103 ensaios de campo, conduzidos em 54 locais no Brasil por diversas instituições de ensino e pesquisa, confirmou benefícios da inoculação com A. brasilense no milho, com incremento médio no rendimento de grãos de 5,4%.
Co-inoculação: O Poder da Parceria
A co-inoculação representa um dos maiores avanços da agricultura moderna. A coinoculação tem como fundamento a cooperação entre as bactérias, uma vez que Azospirillum propicia um incremento no crescimento radicular, beneficiando a atuação do Bradyrhizobium na nodulação e na fixação biológica de nitrogênio.
Soja: Parceria Perfeita
Na cultura da soja, a co-inoculação combina Azospirillum brasilense com Bradyrhizobium japonicum, criando uma sinergia impressionante. Conforme trabalhos realizados pela pesquisadora da Embrapa, Mariangela Hungria, os ganhos médios de produtividade com o uso de coinoculação ficam em torno de 16%.
Como Funciona na Prática
Mecanismos de Ação
O Azospirillum brasilense atua através de múltiplos mecanismos:
- Fixação Biológica de Nitrogênio: Converte N2 atmosférico em amônia
- Produção de Fitohormônios: Estimula crescimento radicular
- Solubilização de Nutrientes: Melhora disponibilidade de fósforo e potássio
- Tolerância a Estresses: Aumenta resistência a secas e patógenos
As moléculas sintetizadas por A. brasilense, como o ácido salicílico e jasmonato, podem tornar as plantas mais tolerantes a estresses.
Resultados Visuais Comprovados
Alguns trabalhos verificaram após a aplicação de exsudatos de A. brasilense em sementes de soja e em raízes de arroz respectivamente, o aumento no número de pêlos e raízes laterais, estimulando assim o crescimento da planta.
Aplicação Prática: Do Laboratório ao Campo
Métodos de Inoculação
Inoculação via Semente:
- Dose: Uma aplicação é suficiente
- Timing: Semear em até 24 horas após inoculação
- Cuidado: Evitar temperaturas elevadas
Inoculação via Sulco:
- Equipamento: Tanque específico acoplado à plantadeira
- Distribuição: Mangueiras adaptadas para os sulcos
- Vantagem: Não sofre interferência do tratamento de sementes
Cuidados Essenciais
É fundamental realizar a coinoculação separadamente após o tratamento de sementes, evitando-se a submissão das sementes ao chamado “sopão” (misturas de fungicidas, inseticidas e fertilizantes com o inoculante).
Pontos críticos de atenção:
- Verificar registro no MAPA
- Conferir prazo de validade
- Armazenar em local fresco e arejado
- Proteger do sol durante transporte
- Respeitar intervalo de 24h entre tratamento e inoculação
Impacto Econômico e Ambiental
O Caso de Sucesso Brasileiro
“O uso de microrganismos promotores do crescimento de plantas – capazes de substituir, parcial ou totalmente, os fertilizantes químicos – representa uma estratégia-chave para o Brasil, que importa a maior parte dos fertilizantes usados na agricultura”, destaca a pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa.
Sustentabilidade em Números
A redução da aplicação de nitrogênio promove, por hectare, uma mitigação de 236 kg de equivalentes de CO2 e uma economia de R$ 260 em fertilizante. Em escala nacional, esses números representam:
- Milhões de toneladas de CO2 evitadas
- Bilhões de reais economizados
- Redução da dependência de fertilizantes importados
Experiências de Campo Comprovadas
Validação Científica Robusta
Durante dez anos, a Embrapa Soja conduziu 30 ensaios a campo (26 deles em primeira safra) para avaliar a inoculação em 12 genótipos comerciais (híbridos e variedades) de milho. Os resultados foram consistentes em diferentes condições:
- Solos argilosos e arenosos
- Condições tropicais e subtropicais
- Alto e baixo teor de matéria orgânica
- Diferentes níveis de rendimento
Adaptabilidade Nacional
“Todos os experimentos realizados confirmam esses benefícios, em diferentes níveis de rendimento, condições tropicais e subtropicais, solos argilosos e arenosos, com alto e baixo teor de matéria orgânica”, confirma Mariangela Hungria.
O Futuro da Agricultura Brasileira
Tendências e Perspectivas
A adoção de inoculantes no Brasil já é impressionante. A taxa de adoção de inoculantes na cultura da soja no Brasil é a mais elevada do mundo – 80% de toda a área cultivada. Para o milho, o crescimento é exponencial, com mais de 10 milhões de doses comercializadas anualmente.
Pesquisa Contínua
O número de nódulos por planta foi maior tanto pelo histórico de inoculação da área, quanto pela coinoculação na soja, e este incremento no número de nódulos é comprovado pelo efeito hormonal da Azospirillum. Isso demonstra que o uso contínuo potencializa os benefícios.
Recomendações Práticas para Produtores
Para Cultivo de Milho
- Inoculação obrigatória: Use estirpes Ab-V5 e Ab-V6
- Redução de N: Diminua 25% da adubação de cobertura
- Timing perfeito: Inocule na semeadura
- Qualidade garantida: Verifique origem e registro
Para Cultivo de Soja
- Co-inoculação sempre: Combine Bradyrhizobium + Azospirillum
- Separação de processos: Trate sementes primeiro, inocule depois
- Via sulco preferível: Evita interferência química
- Monitoramento contínuo: Acompanhe nodulação
Superando Desafios Comuns
Mitos vs. Realidade
Mito: “Azospirillum só funciona em condições ideais” Realidade: Funciona em ampla gama de condições edafoclimáticas
Mito: “É caro e complicado” Realidade: ROI positivo já no primeiro ano de uso
Mito: “Substitui completamente fertilizantes” Realidade: Complementa e otimiza, reduzindo necessidade
Troubleshooting de Campo
Principais problemas e soluções:
- Baixa resposta: Verificar qualidade do inoculante e condições de aplicação
- Incompatibilidade: Separar tratamento químico da inoculação
- Variabilidade: Usar dose recomendada e distribuição uniforme
Conclusão: A Escolha Inteligente
O Azospirillum brasilense representa mais que uma tecnologia agrícola – é uma revolução sustentável que combina produtividade, economia e responsabilidade ambiental. Com resultados comprovados em milhares de hectares e décadas de pesquisa, a inoculação e co-inoculação não são mais opções, mas necessidades para uma agricultura competitiva.
A tecnologia é aplicável em amplas condições de clima e de solo brasileiros e é, portanto, uma tecnologia rentável e sustentável, que pode ser aplicada em todas as regiões produtoras do país.
Para o produtor moderno, a pergunta não é mais “por que usar Azospirillum?”, mas sim “por que ainda não estou usando?”. Com economia garantida de R$ 260 por hectare, aumento médio de produtividade de 16% na soja e 3,1% no milho, além da contribuição ambiental significativa, o Azospirillum brasilense é o investimento que se paga sozinho.
A agricultura brasileira continua liderando mundialmente em inovação biotecnológica. O Azospirillum brasilense é mais uma prova de que ciência, tecnologia e sustentabilidade podem caminhar juntas rumo a um futuro mais produtivo e responsável.
FONTES INSTITUCIONAIS - EMBRAPA
Embrapa Soja - Bioinsumo pode reduzir em 25% o nitrogênio usado na adubação de cobertura do milho
URL: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/76531079/bioinsumo-pode-reduzir-em-25-o-nitrogenio-usado-na-adubacao-de-cobertura-do-milho
Embrapa - Inoculação com Azospirillum brasilense: inovação em rendimento a baixo custo
URL: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/879471/inoculacao-com-azospirillum-brasilense-inovacao-em-rendimento-a-baixo-custo
REVISTAS CIENTÍFICAS
Revista de Ciências Agro-Ambientais - Produtividade de milho inoculado com Azospirillum brasilense
URL: https://periodicos.unemat.br/index.php/rcaa/article/view/13688
Revista Delos - Efeitos da inoculação com Azospirillum brasilense em variedades de milho
URL: https://ojs.revistadelos.com/ojs/index.php/delos/article/view/4637
Scientia Agraria Paranaensis - Co-inoculação e modos de aplicação de Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense
URL: https://e-revista.unioeste.br/index.php/scientiaagraria/article/view/10565
Revista Cultivar - Inoculação do milho com Azospirillum brasilense
URL: https://revistacultivar.com.br/artigos/inoculacao-do-milho-com-azospirillum-brasilense-estirpes-ab-v5-e-ab-v6-permite-a-reducao-de-25-na-adubacao-nitrogenada-de-cobertura
Contribuciones a las Ciencias Sociales - Influência do Azospirillum brasilense e fertilizante organomineral
URL: https://ojs.revistacontribuciones.com/ojs/index.php/clcs/article/view/14399
REPOSITÓRIOS UNIVERSITÁRIOS
UNESP - Inoculação e coinoculação com Bradyrhizobium e Azospirillum em soja
URL: https://repositorio.unesp.br/items/13c71d48-d3ab-4df8-895d-b4b571738db8
FONTES TÉCNICAS ESPECIALIZADAS
Solubio - Os benefícios da co-inoculação de Azospirillum brasilense na cultura da soja
URL: https://www.solubio.agr.br/post/os-benefícios-da-co-inoculação-de-azospirillum-brasilense-na-cultura-da-soja
Elevagro - Azospirillum em soja: benefícios e cuidados
URL: https://elevagro.com/blog/azospirillum-em-soja-beneficios-e-cuidados
Elevagro - Inoculação de sementes com Azospirillum brasilense reduz em ¼ a aplicação de nitrogênio
URL: https://elevagro.com/blog/inoculacao-de-sementes-com-azospirillum-brasilense-reduz-em-%C2%BC-a-aplicacao-de-nitrogenio-em-cobertura-no-milho/
Nutrição de Safras - Azospirillum brasilense: o que é e principais indicações
URL: https://nutricaodesafras.com.br/azospirillum-brasilense-o-que-e-e-principais-indicacoes
Agro Advance - Uso de Azospirillum brasilense em milho e cana-de-açúcar
URL: https://agroadvance.com.br/blog-azospirillum-brasilense-milho-cana/
FUNDAÇÕES DE APOIO À PESQUISA
Fundação Araucária - Bioinsumo pode reduzir em 25% o nitrogênio usado na adubação de cobertura do milho
URL: https://www.fappr.pr.gov.br/Noticia/Bioinsumo-pode-reduzir-em-25-o-nitrogenio-usado-na-adubacao-de-cobertura-do-milho
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