Aprenda a Plantar Milho Sem Ureia
A Crise da Ureia: O Custo Econômico e Ambiental da Dependência do Nitrogênio Sintético
A cultura do milho (Zea mays L.) é uma das mais importantes e exigentes em nitrogênio (N).1 Historicamente, a ureia tem sido a principal fonte desse nutriente, correspondendo a 60% dos fertilizantes nitrogenados comercializados no Brasil.2 Contudo, uma confluência de fatores econômicos, agronômicos e ambientais está tornando essa dependência insustentável, impulsionando a busca por alternativas viáveis, como a estratégia de “plantar milho sem ureia”.
A Insustentabilidade Econômica: A Relação de Troca Milho-Ureia
O primeiro fator de pressão é a economia. A ureia é valorizada por seu alto teor de N e por ser, historicamente, uma fonte eficiente e “econômica”.2 No entanto, essa percepção ignora a extrema volatilidade do mercado. Em novembro de 2021, a relação de troca entre o grão e o fertilizante atingiu seu pior nível desde setembro de 2008.5 Naquele ponto, o produtor de milho precisava de 3,35 toneladas do grão para comprar apenas 1 tonelada de ureia.5
Esse valor representou o dobro da média registrada no ano anterior.5 Para o produtor rural, o problema central não é apenas o preço da ureia, mas sua dependência de um único insumo 4 cujos termos de troca podem duplicar em 12 meses. Esta volatilidade torna o planejamento agrícola e a gestão de risco financeiro quase impossíveis, transformando a busca por alternativas em uma necessidade estratégica de sobrevivência econômica.
A Ineficiência Agronômica: Perdas por Volatização de Amônia
O segundo pilar da crise da ureia é sua profunda ineficiência no campo. A principal desvantagem agronômica da ureia é a alta possibilidade de perdas de N por volatilização de amônia quando aplicada ao solo.2 Essas perdas ocorrem quando a ureia sofre hidrólise enzimática pela enzima uréase, liberando N amoniacal na atmosfera antes que a planta possa absorvê-lo.2
Estudos indicam que essas perdas podem chegar a 80% do N aplicado, dependendo das condições.2 A eficiência de uso do N mineral em geral, no sistema, frequentemente não ultrapassa 50%.6 Na prática, o produtor está pagando 100% do preço de um insumo volátil 5 para que, na melhor das hipóteses, metade dele seja perdida para a atmosfera.2
A “economia” da ureia, baseada no custo por kg de N no saco, é uma ilusão contábil. O custo real do N que de fato entra na planta é, no mínimo, o dobro do preço de nota fiscal. Tecnologias como os inibidores de urease (ureia revestida) buscam mitigar esse problema, mas seu objetivo é apenas reduzir a volatilização, não eliminá-la, e adicionam custos.1
O Impacto Ambiental: Lixiviação de Nitrato e Contaminação Hídrica
O nitrogênio que não é perdido para o ar muitas vezes é perdido para a água. Fertilizantes nitrogenados são uma fonte crescente de preocupação pela contaminação de águas subterrâneas.8 O N aplicado que não é absorvido rapidamente pela planta ou volatilizado é convertido por microrganismos do solo em nitrato .10
O nitrato é uma forma de N altamente móvel e solúvel. Ele não se fixa às partículas do solo e é facilmente “lavado” pela chuva ou irrigação, num processo chamado lixiviação.10 Esse nitrato lixiviado move-se do perfil do solo para os lençóis freáticos e cursos de água. Estudos em distritos irrigados no Ceará já demonstram um “aumento preocupante” nos teores de nitrato em poços, excedendo significativamente os limites aceitáveis para consumo humano.8
Este é um problema fundamental de timing. A adubação de cobertura tradicional aplica grandes doses de N de uma só vez.12 A planta de milho, especialmente em estágios iniciais, não consegue absorver todo esse volume. Um estudo da Embrapa sobre lixiviação de nitrato no milho demonstrou que as maiores perdas ocorreram no final do ciclo da cultura, quando a extração de N pela planta já era pequena, mas o volume de chuva era considerável.13 O N aplicado em excesso meses antes ficou residual no solo, converteu-se em nitrato e foi subsequentemente perdido. Este desacoplamento entre a oferta de N (picos de adubação) e a demanda da planta (curva de absorção) é a causa raiz da contaminação.
A Pegada de Carbono da Produção de N Sintético
Finalmente, a produção de fertilizantes nitrogenados sintéticos, baseada no processo de Haber-Bosch, é uma das atividades industriais mais intensivas em energia do planeta. Como resultado, sistemas de cultivo convencionais, altamente dependentes desses insumos, carregam uma pegada de carbono significativamente maior do que sistemas conservacionistas ou biológicos.14
A pressão para “plantar milho sem ureia” não vem apenas da economia 5 ou da regulação ambiental.8 Ela vem, crescentemente, do próprio mercado. A agricultura está entrando na era da contabilidade de carbono 14, onde empresas de alimentos, investidores e consumidores exigem cadeias de suprimentos de baixo impacto. A adoção de bioinsumos e soluções biológicas é, portanto, uma estratégia essencial de posicionamento de mercado para o futuro.
Fundamentos da Solução Biológica (Parte 1): Azospirillum brasilense – O Arquiteto de Raízes
Diante da crise da ureia, a ciência tem se voltado para soluções biológicas que trabalham com a planta, e não apesar do ambiente. A primeira metade da solução moderna é a bactéria Azospirillum brasilense, um dos microrganismos mais estudados e utilizados na agricultura brasileira.15
O Mecanismo Primário: Ação como Bactéria Promotora de Crescimento de Plantas (BPCP)
Um erro comum é classificar o Azospirillum apenas como um fixador de nitrogênio. Embora ele execute essa função 17, seu maior e mais impactante benefício na cultura do milho é sua ação como uma Bactéria Promotora de Crescimento de Plantas (BPCP).18
O mecanismo primário do Azospirillum é a produção de fitormônios (hormônios vegetais), como o ácido indol-acético (AIA), giberelinas e citocininas.18 Esses compostos atuam como bioestimulantes, alterando fundamentalmente a arquitetura da planta de milho, especialmente seu sistema radicular.18
Portanto, o Azospirillum não deve ser manejado como um “fertilizante” que alimenta a planta, mas como um “arquiteto” que muda o projeto da planta para que ela possa se alimentar melhor. Esta distinção é crucial para seu correto manejo, que deve ocorrer no início do ciclo (tratamento de semente ou sulco de plantio) para definir o potencial radicular desde a germinação.21
A Consequência Prática: Uma “Boca” Maior e Tolerância à Seca
A ação hormonal do Azospirillum resulta em um sistema radicular mais robusto, profundo e com maior volume de raízes e radicelas.22 Para a planta, isso é o equivalente a ter uma “boca” maior. Um sistema radicular superior permite que a planta explore um volume de solo muito maior, aumentando drasticamente a absorção de água e nutrientes—não apenas o N, mas também fósforo, potássio e micronutrientes.18
A consequência agronômica direta é o aumento da resiliência. Com raízes mais profundas, a planta ganha maior tolerância a estresses abióticos, notavelmente a seca (estresse hídrico).18
É fundamental, no entanto, abordar a ciência com nuance. A biologia é complexa. Enquanto muitos estudos demonstram esses benefícios radiculares 18, um boletim de pesquisa da Embrapa não encontrou alteração significativa na morfologia radicular ou mitigação do estresse hídrico com a inoculação de A. brasilense.23 Outra pesquisa observa que a eficiência da inoculação varia conforme o híbrido de milho utilizado.24
Isso não invalida a tecnologia; pelo contrário, reforça que o sucesso do Azospirillum não é universal como o de um químico. É uma interação biológica complexa que depende da cepa (estirpe) correta da bactéria (como as cepas Ab-V5 e Ab-V6, amplamente validadas e usadas no Brasil 16), do híbrido de milho 24 e das condições edafoclimáticas.
O Papel na Nutrição Nitrogenada: Redução, Não Substituição
O Azospirillum efetivamente realiza a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).15 No entanto, é consenso científico que ele não substitui completamente a adubação nitrogenada de cobertura.18
Pesquisadores da Embrapa esclarecem que a FBN do Azospirillum supre parcialmente a demanda da planta.25 Sua função é complementar a adubação, não eliminá-la por conta própria.18
Quantitativamente, o uso de bioinsumos como o Azospirillum é recomendado pela Embrapa para permitir uma redução de 25% no nitrogênio aplicado em cobertura.26 Estudos da Embrapa Amazônia Ocidental ilustram perfeitamente esse papel duplo:
- A inoculação sem adubação de cobertura já aumentou a produtividade em 1.000 kg/ha (38%).25
- A inoculação combinada com a adubação de cobertura (mesmo que reduzida) mais do que dobrou a produtividade (127% de ganho).25
Em suma, o papel do Azospirillum na estratégia “sem ureia” é duplo: primeiro, construir o “hardware” (o sistema radicular) que torna a planta mais eficiente; segundo, fornecer uma base de N biológico, substituindo com segurança o primeiro quarto da demanda de N sintético.
Fundamentos da Solução Biológica (Parte 2): Methylobacterium symbioticum – A Usina de FBN Foliar
Se o Azospirillum é a fundação, o Methylobacterium symbioticum é a inovação que permite a construção do “edifício” da alta produtividade sem ureia. Trata-se de uma bactéria com um mecanismo de ação completamente diferente e complementar.
Um Novo Paradigma: A Colonização da Filosfera (Folha)
Esta é uma bactéria endofítica, o que significa que ela vive dentro dos tecidos da planta.27 O diferencial do Methylobacterium é sua forma de aplicação e colonização: ela é aplicada via pulverização foliar e penetra na planta ativamente através dos estômatos (os poros de respiração da folha).6
Uma vez dentro, ela coloniza a filosfera—o interior dos tecidos foliares, especificamente as células fotossintéticas.6 Este mecanismo é uma solução de engenharia biológica elegante para os problemas da ureia. Ao instalar a “fábrica” de N diretamente dentro da folha, a estratégia ignora completamente as perdas por volatilização no solo 2 e elimina o risco de lixiviação de nitrato.8 É uma mudança de paradigma de um sistema ineficiente de “adubação de solo” para um sistema de alta eficiência de “nutrição na planta”.
O Mecanismo Bioquímico: A Sinergia do Metanol e da Nitrogenase
O mecanismo bioquímico desta bactéria é uma simbiose perfeita com a fisiologia do milho.
- A Enzima: Dentro do tecido foliar, o M. symbioticum produz a enzima nitrogenase.6
- A Reação: A nitrogenase é a única enzima biológica capaz de quebrar a tripla ligação do N atmosférico , o ar e convertê-lo em amônio, uma forma de N prontamente assimilável pela planta.6
- O Combustível: A FBN é um processo que exige uma quantidade massiva de energia. O M. symbioticum obtém essa energia de uma fonte engenhosa: o metanol.27 A bactéria é metilotrófica, ou seja, ela se alimenta de metanol.29
- A Simbiose: As plantas de milho, como parte natural de seu metabolismo e fotossíntese (especificamente o metabolismo da parede celular), liberam pequenas quantidades de metanol dentro de suas folhas.27
Este é um ciclo de feedback positivo: quanto mais a planta faz fotossíntese, mais “resíduo” de metanol ela produz. A Methylobacterium consome esse metanol como fonte de energia para alimentar a nitrogenase. A nitrogenase, por sua vez, fixa o N do ar e o entrega como amônio diretamente para a célula da planta, exatamente no local e no momento em que a fotossíntese está ocorrendo e demandando N.
Isso representa a verdadeira “nutrição sob demanda” (on-demand), um sistema que se autorregula pela taxa metabólica da planta. É o oposto exato do modelo da ureia, que entrega uma dose maciça de N 12 muito antes do pico de demanda da planta, gerando perdas.
Eficácia Comprovada: Dados de Produtividade e Redução de N
Esta tecnologia já está disponível comercialmente, como no produto Utrisha N.6 A pesquisa científica tem validado sua eficácia em permitir reduções drásticas de N sintético.
Um estudo crítico conduzido no Brasil com a cepa Methylobacterium symbioticum SB23 produziu resultados notáveis.30 O experimento testou a inoculação foliar combinada com diferentes níveis de redução do N de cobertura:
- O tratamento que combinou a inoculação foliar com uma redução de 50% do fertilizante nitrogenado resultou no maior aumento de produtividade observado: +53,7% em comparação com o tratamento controle (sem N).30
- Tratamentos com 25% de redução de N também apresentaram aumentos significativos, como +42,2%.30
Outras pesquisas indicam que a bactéria é capaz de fornecer o equivalente a pelo menos 30 a 75 kg de N por hectare.27 Os efeitos agronômicos da colonização e fixação de N tornam-se visíveis (via NDVI ou N-Tester) de 4 a 6 semanas após a aplicação.27
Isso posiciona o Methylobacterium como um pilar central na estratégia “sem ureia”. Ele não apenas complementa o N; ele permite ativamente uma redução drástica (50% ou mais) do N sintético, não apenas igualando, mas aumentando a produtividade.
Sinergia e Manejo da Co-Inoculação: Azospirillum + Methylobacterium
A estratégia mais avançada para “plantar milho sem ureia” não é uma bala de prata, mas sim um sistema integrado que combina os dois mecanismos biológicos: a fundação de raízes do Azospirillum e a usina foliar de N do Methylobacterium.
A Estratégia “Raiz-e-Folha” (Root-and-Shoot)
A co-inoculação visa associar diferentes traços funcionais de microrganismos para obter um efeito sinérgico que uma única cepa não poderia fornecer.32 A combinação de Azospirillum 15 e Methylobacterium 6 cria um sistema completo de nutrição “Raiz-e-Folha”:
- Fundação (Plantio): O Azospirillum brasilense é aplicado via tratamento de semente ou sulco de plantio.21 Sua função é construir o “hardware” da planta: um sistema radicular massivo para absorção eficiente de água, Fósforo (P), Potássio (K) e micronutrientes, enquanto fornece uma base de N biológico.18
- Fábrica (V3-V7): O Methylobacterium symbioticum é aplicado via pulverização foliar.35 Sua função é colonizar a planta e atuar como a “usina de energia” de N, usando a energia da fotossíntese (metanol) 27 para fixar N do ar durante a fase de maior demanda da planta.
A sinergia é complementar: o Azospirillum garante que a planta tenha toda a “maquinaria” (P, K, Mg, água) necessária para operar a fotossíntese em alta capacidade. O Methylobacterium usa essa alta capacidade fotossintética para gerar o N necessário para manter essa alta capacidade.
Análise Crítica dos Dados de Produtividade da Co-Inoculação
A teoria da sinergia é robusta, mas os dados de campo são complexos e exigem uma análise criteriosa. Diferentes estudos chegam a conclusões distintas, dependendo da métrica utilizada.
Estudo 1 (Foco em Aumento de Produtividade sem N):
Um estudo da UNESP 36 comparou várias combinações de inoculantes em um cenário sem N sintético:
- Controle (0% N): 5709 kg/ha
- Azospirillum (Azo) isolado: 6273 kg/ha (+8,4% vs. Controle)
- Methylobacterium + Azospirillum (Met + Azo): 6289 kg/ha (+8,68% vs. Controle)
- Azospirillum + Bacillus (Azo + Bac): 6688 kg/ha (+14,63% vs. Controle)
- Met + Azo + Bac (Mistura Tripla): ~5900 kg/ha (Semelhante ao Controle)
Este estudo revela dois pontos cruciais:
- Sem Sinergia Aditiva: A co-inoculação Met + Azo (6289 kg/ha) teve um desempenho estatisticamente idêntico ao Azo sozinho (6273 kg/ha). A sinergia 1+1=3 não foi comprovada nesse ensaio.
- Risco de Antagonismo: A mistura tripla (Met + Azo + Bac) teve um desempenho pífio, semelhante ao controle. Isso sugere fortemente um efeito antagônico ou competição entre os microrganismos.36 “Mais é melhor” é um conceito perigoso em biologia.
Estudo 2 (Foco em Substituição de N):
Um estudo diferente 37 utilizou a métrica correta para a premissa “plantar milho sem ureia”. Ele comparou um tratamento com 100% de N sintético (Controle) com um tratamento de co-inoculação (Met + Azo) com 0% de N sintético. O resultado foi que não houve diferenças significativas de produtividade entre o tratamento com 100% de ureia e o tratamento com 100% de biológicos.
Veredito da Análise:
Os dados, quando interpretados corretamente, são claros. O objetivo da co-inoculação pode não ser aumentar o teto de produtividade sobre um sistema já saturado de N, mas sim igualar a produtividade do sistema convencional sem o custo e o impacto da ureia.
O Estudo 2 37 prova que a substituição total é viável, alcançando paridade de rendimento.
O Estudo 1 36 prova que a compatibilidade de cepas é fundamental e que o antagonismo é um risco real.
O Estudo 3 (com Met isolado) 30 prova que uma substituição parcial (50%) pode, inclusive, aumentar a produtividade (+53,7%).
Tabela Comparativa: Análise de Produtividade de Bioinsumos no Milho
A tabela a seguir sintetiza os resultados de diferentes estudos e estratégias de inoculação, destacando a métrica de avaliação (aumento vs. substituição) e o resultado.
| Estudo (Fonte) | Tratamento | Taxa de N Sintético (Ureia) | Produtividade (kg/ha) | Resultado vs. Referência | Insight Chave |
| 36 / 36 | Controle (sem N) | 0% | 5709 | Referência | Base de comparação (sem N) |
| 36 / 36 | Azospirillum (Azo) | 0% | 6273 | +8,4% vs. Controle 0% N | Efeito base do Azo isolado |
| 36 / 36 | Met + Azo | 0% | 6289 | +8,68% vs. Controle 0% N | Sem sinergia aditiva (vs. Azo) |
| 36 / 36 | Azo + Bacillus | 0% | 6688 | +14,63% vs. Controle 0% N | Melhor sinergia (neste estudo) |
| 36 / 36 | Met + Azo + Bac | 0% | ~5900 | ~Controle 0% N | Risco de Antagonismo |
| 37 / [38] | Controle (Ureia) | 100% | (Dados não sig. dif.) | Referência | Base de mercado (100% N) |
| 37 / [38] | Met + Azo | 0% | (Dados não sig. dif.) | Igual ao Controle 100% N | Prova de Substituição Total |
| 30 / 30 | Controle (sem N) | 0% | Referência | Referência | Base de comparação (sem N) |
| 30 / 30 | Methylobacterium (Met) | 50% | +53,7% | Aumento com Redução de 50% N | Prova de Substituição Parcial + Ganho |
Guia Prático de Aplicação e Manejo Biológico Integrado
Converter essa ciência em prática agrícola exige um manejo cuidadoso, focado em otimizar a sobrevivência e a colonização desses microrganismos vivos.
Manejo do Azospirillum brasilense (A Fundação)
- O Quê: Cepas selecionadas de A. brasilense (ex: Ab-V5, Ab-V6).16
- Quando: No momento do plantio.21
- Como: Existem duas formas principais de aplicação, ambas buscando o contato imediato com as raízes emergentes:
- Tratamento de Sementes (TS): Método mais comum e prático, garantindo que a bactéria esteja na semente no momento da germinação.21
- Sulco de Plantio (In-furrow): Aplicação líquida no sulco de plantio. Considerado muito eficaz, pois permite uma colonização rápida da raiz no solo.21
- Justificativa: A aplicação no plantio é inegociável. A função primária do Azospirillum é construir a arquitetura do sistema radicular 18, e essa definição de potencial ocorre nos primeiros dias da planta.
Manejo do Methylobacterium symbioticum (A Usina de N)
- O Quê: Inoculante foliar endofítico.6
- Quando: Em estágios vegetativos iniciais. Os estudos apontam para aplicações entre os estágios V3 e V4 (escala BBCH 13-14).35
- Justificativa (Nuance de Manejo): Pode parecer contraintuitivo aplicar em V3-V4, quando a área foliar é pequena.40 No entanto, é preciso diferenciar um fertilizante foliar (que depende da área de superfície para absorção) de um inoculante biológico (que depende de tempo para colonização). A bactéria precisa ser aplicada em V3-V4 para ter tempo de penetrar pelos estômatos e colonizar todo o tecido da planta. Os efeitos agronômicos da fixação de N só aparecem de 4 a 6 semanas após a aplicação.27 Aplicando em V4, a planta estará totalmente colonizada e com a “usina de N” funcionando a pleno vapor antes da fase de maior demanda (V8 ao pré-pendoamento). Esperar mais (ex: V7) é tarde demais para a colonização.
- Como: Pulverização foliar. Por se tratar de um organismo vivo, a aplicação deve ser feita em horários frescos (início da manhã ou final da tarde) e com umidade relativa adequada (um estudo menciona 20°C e 50% UR 35), para garantir a sobrevivência da bactéria e a abertura dos estômatos para a penetração.
Considerações Críticas para o Sucesso Biológico
- Compatibilidade Química: O Azospirillum aplicado na semente deve ser compatível com os fungicidas e inseticidas químicos do tratamento de sementes. O produtor deve verificar as tabelas de compatibilidade fornecidas pelos fabricantes.
- Qualidade do Inoculante: O sucesso depende da concentração (UFC/ml – Unidades Formadoras de Colônia por ml) e da viabilidade das bactérias no produto.28 O armazenamento incorreto (calor) ou o uso de produtos de baixa qualidade levará ao fracasso.
- Interação Híbrida: Os resultados podem variar significativamente entre diferentes híbridos de milho.24 A validação em campo de quais híbridos respondem melhor é uma etapa necessária.
Conclusão e Veredito: “Plantar Milho Sem Ureia” – Realidade ou Mito de SEO?
Respondendo à Pergunta Central
Com base na análise dos dados agronômicos e econômicos, a premissa de “plantar milho sem ureia” não é um mito de marketing, mas sim uma realidade agronômica emergente e viável.
No entanto, a frase é incompleta. A estratégia correta é “Plantar milho substituindo a ureia por um sistema biológico de N“. A pesquisa científica suporta esta substituição:
- É possível substituir 100% da ureia e alcançar paridade de rendimento (mesma produtividade) em comparação com o manejo 100% N sintético.37
- É possível substituir 50% da ureia e, em alguns casos, aumentar a produtividade acima do controle, como demonstrado pelo ganho de +53,7%.30
Portanto, a resposta agronômica é “Sim, é viável”, e os dados indicam que é economicamente racional e ambientalmente necessário.
A Mudança de Paradigma: De “Dose de N” para “Sistema de N”
A verdadeira revolução é a mudança de mentalidade que essa tecnologia exige. O manejo de N na cultura do milho está deixando de ser uma aplicação química para se tornar uma gestão de sistema biológico.
O Sistema Antigo (Ureia) era focado em “Dose e Época”.12 A análise demonstrou que este sistema é caro e volátil 5, agronomicamente ineficiente (perdas de 50-80%) 2 e ambientalmente danoso (lixiviação de $\text{NO}_3^-$ e alta pegada de carbono).8
O Novo Sistema (Biológico) é focado em mecanismos complementares que funcionam em sinergia:
- Fundação (Azospirillum): Constrói a eficiência da planta e a resiliência (raízes).18
- Fábrica (Methylobacterium): Fornece N sob demanda, acoplado diretamente à fotossíntese da planta.6
- Ambiente (Solo): Práticas conservacionistas, como a rotação de culturas (ex: com soja), fornecem o N residual e a saúde do solo necessários para o sistema prosperar.42
Esta abordagem sistêmica é mais resiliente a estresses, economicamente mais estável (libertando o produtor da volatilidade do N sintético 5) e fundamentalmente sustentável.
Recomendações Finais para o Produtor Inovador
A co-inoculação de Azospirillum brasilense (aplicado via semente/sulco no plantio) e Methylobacterium symbioticum (aplicado via foliar em V3-V4) é, atualmente, a estratégia cientificamente mais avançada e validada para reduzir drasticamente ou eliminar a dependência da ureia na cultura do milho.
O sucesso depende da adoção de uma mentalidade de “manejo biológico”, respeitando as condições de aplicação, a qualidade dos inoculantes, a compatibilidade de cepas e a interação com o híbrido.
Para produtores que buscam adotar esta tecnologia, uma abordagem prudente é iniciar com uma substituição parcial (ex: 50% de redução do N de cobertura + sistema biológico completo), conforme validado pelo estudo.30 Após a validação em talhões da própria fazenda, avançar para a substituição total, suportada pelo estudo 37, torna-se um passo estratégico e seguro.
Fonte:
Referências citadas
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Adubação nitrogenada na cultura do milho – YouTube, acessado em novembro 2, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=KgyFf3HVmro
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Methylobacterium symbioticum fixa N2 via folhar em miilho?, acessado em novembro 2, 2025, https://agroadvance.com.br/blog-bacteria-methylobacterium-symbioticum/
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BENEFÍCIOS DO USO DE Methylobacterium symbioticum NA CULTURA DO ARROZ IRRIGADO – SOSBAI, acessado em novembro 2, 2025, https://www.sosbai.com.br/uploads/trabalhos/beneficios-do-uso-de-methylobacterium-symbioticum-na-cultura-do-arroz-irrigado._98.pdf
Foliar inoculation with Methylobacterium … – agraria.pro.br, acessado em novembro 2, 2025, https://www.agraria.pro.br/ojs32/index.php/RBCA/article/download/4182/1611/11222
(PDF) Foliar inoculation with Methylobacterium symbioticum SB23 enhances nitrogen fixation and maize productivity under different edaphoclimatic conditions – ResearchGate, acessado em novembro 2, 2025, https://www.researchgate.net/publication/392602797_Foliar_inoculation_with_Methylobacterium_symbioticum_SB23_enhances_nitrogen_fixation_and_maize_productivity_under_different_edaphoclimatic_conditions
The synergistic action of Azospirillum brasilense and effective microorganisms promotes growth and increases the productivity of green corn Ação sinergística do Azospirillum brasilense e micro-organismos eficazes promove o crescimento e aumenta a produtividade do milho verde – ResearchGate, acessado em novembro 2, 2025, https://www.researchgate.net/publication/351555692_The_synergistic_action_of_Azospirillum_brasilense_and_effective_microorganisms_promotes_growth_and_increases_the_productivity_of_green_corn_Acao_sinergistica_do_Azospirillum_brasilense_e_micro-organis
Meta-analysis reveals benefits of co-inoculation of soybean with Azospirillum brasilense and Bradyrhizobium spp. in Brazil | Request PDF – ResearchGate, acessado em novembro 2, 2025, https://www.researchgate.net/publication/348972442_Meta-analysis_reveals_benefits_of_co-inoculation_of_soybean_with_Azospirillum_brasilense_and_Bradyrhizobium_spp_in_Brazil
USE OF NITROGEN FIXING BACTERIA IN SECOND-SEASON CORN CROP IN NOVA MUTUM – MT | Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro – OJSBR, acessado em novembro 2, 2025, https://remunom.ojsbr.com/multidisciplinar/article/view/3810
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EFICIÊNCIA DA BACTÉRIA METHYLOBACTERIUM SYMBIOTICUM E AZOSPIRILLUM BRASILENSE NA FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO E PROMOÇÃO DE CRESCIMENTO NA CULTURA DO MILHO – ResearchGate, acessado em novembro 2, 2025, https://www.researchgate.net/publication/395108297_EFICIENCIA_DA_BACTERIA_METHYLOBACTERIUM_SYMBIOTICUM_E_AZOSPIRILLUM_BRASILENSE_NA_FIXACAO_BIOLOGICA_DE_NITROGENIO_E_PROMOCAO_DE_CRESCIMENTO_NA_CULTURA_DO_MILHO
EFICIÊNCIA DA BACTÉRIA METHYLOBACTERIUM SYMBIOTICUM …, acessado em novembro 2, 2025, https://revistaft.com.br/eficiencia-da-bacteria-methylobacterium-symbioticum-e-azospirillum-brasilense-na-fixacao-biologica-de-nitrogenio-e-promocao-de-crescimento-na-cultura-do-milho/
Modos de aplicação e doses de inoculação com Azospirillum no …, acessado em novembro 2, 2025, https://agrogeoambiental.ifsuldeminas.edu.br/index.php/Agrogeoambiental/article/download/1513/pdf_1/9211
TEM QUE JOGAR A UREIA PRÓXIMA AO PÉ DO MILHO ?? | O AGRÔNOMO RESPONDE, acessado em novembro 2, 2025, https://www.youtube.com/watch?v=tgTdvDhT0tI
Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho – Infoteca-e – Embrapa, acessado em novembro 2, 2025, https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/486122/1/Circ96.pdf
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