Uso de Bacillus aryabhattai na cultura da soja para enfrentar estresse térmico
Nas últimas décadas, o uso de agentes biológicos na agricultura vem ganhando espaço como alternativa sustentável para aumentar o rendimento das culturas em condições adversas. Entre esses agentes, destaca-se a bactéria Bacillus aryabhattai, capaz de promover o crescimento e conferir maior tolerância da soja a extremos de temperatura. Este artigo reúne os principais resultados de estudos em laboratório, casa de vegetação e campo, com foco nos valores mais relevantes de produtividade, crescimento vegetal e resistência ao calor.
🔬 Mecanismos de ação
Bacillus aryabhattai coloniza rapidamente a rizosfera da soja e produz fitormônios como auxina (IAA), ácido abscísico (ABA) e giberelinas, além de exopolissacarídeos que melhoram a retenção de água pelas raízes. Esses mecanismos ajudam a planta a manter o equilíbrio hormonal e a fechar estômatos de forma eficiente sob calor intenso, reduzindo a perda de água e evitando sintomas de murcha e clorose.
🌡️ Resultados em ambiente controlado
No estudo de Park et al. (2017), mudas de soja cultivar Daewon foram submetidas a 38 °C no dia e 30 °C à noite, comparadas a plantas mantidas a 28 °C/25 °C. As plantas inoculadas com B. aryabhattai SRB02 apresentaram:
- aumento de aproximadamente 38 % na altura da parte aérea em relação ao controle sob calor intenso
- folhas maiores, sem ocorrência de clorose, enquanto as plantas controle ficaram amareladas
- níveis mais estáveis de ABA e aumento de outros hormônios de crescimento
Em condições ótimas de temperatura (28 °C/25 °C), as plantas tratadas também exibiram shoots 20 % mais longos e área foliar até 25 % maior que o controle.
🌱 Resultados de produtividade em campo
- Experimento em cinco regiões do Brasil (Franceschini et al., 2024):
- aplicação conjunta de B. aryabhattai e B. megaterium nas sementes
- ganhos de produtividade variando de 2 a 15 sacas de 60 kg por hectare, conforme a região
- aumento consistente na massa seca aérea e altura das plantas
- Ensaio em Campina da Lagoa-PR (Garcia Júnior et al., 2024):
- tratamento de sementes com doses de 0 a 6 mL de inoculante por kg de semente
- dose ótima de 4 mL/kg:
- altura de planta 5,4 % maior que o controle
- comprimento radicular 8,3 % superior
- massa de 1 000 grãos 4,5 % maior
- produtividade cerca de 7,9 sacas/ha acima do controle, embora sem significância estatística
- Demonstrações em fazendas comerciais (Embrapa/NOOA, 2023):
- em regiões de estiagem, plantas inoculadas mantiveram o potencial produtivo vários dias além das não tratadas
- desenvolvimento radicular mais profundo e maior ramificação
- temperatura foliar reduziu em média 2 °C durante episódios de calor intenso

🗣️ Discussão
Os resultados mostram que o uso de B. aryabhattai na soja é especialmente vantajoso em condições de estresse térmico. Em laboratório, a bactéria garantiu crescimento até 38 % superior sob calor extremo e evitou danos foliares. Em campo, os ganhos de produtividade chegaram a 15 sacas/ha em locais mais estressados, enquanto em condições moderadas os aumentos variaram entre 2 e 8 % ou mostraram tendência positiva. Mesmo quando não há diferença estatística em rendimento, os parâmetros de crescimento (altura, massa de grãos, raiz) melhoraram, indicando maior robustez das plantas inoculadas.
Embora faltem estudos específicos sobre tolerância ao frio em soja com essa bactéria, evidências de outros Bacillus sugerem potencial proteção também contra baixas temperaturas, por indução de proteínas de choque ao frio e enzimas antioxidantes.
✅ Conclusão
Bacillus aryabhattai se apresenta como um bioinsumo de baixo risco e alto benefício para a soja, capaz de aumentar a produtividade em até 15 sacas por hectare e promover ganhos de 4 a 8 % em atributos de crescimento. Seu uso é especialmente recomendado em safras sujeitas a calor intenso ou períodos de seca, conferindo maior estabilidade de rendimento. A adoção dessa tecnologia permite aos produtores reduzir perdas por estresse térmico e obter plantas mais vigorosas, alinhando produtividade e sustentabilidade.
📚 Referências
- Park Y-G et al. (2017) PLoS ONE 12(3): e0173203
- Park Y-G et al. (2024) Front. Plant Sci. 15:1341993
- Franceschini SB et al. (2024) Revista Inova Ciência & Tecnologia 10(1)
- Garcia Júnior CF et al. (2024) Ciências Agrárias: Práticas e Inovações, Cap. 6
- Melo CS et al. (2023) Relatórios Embrapa Meio Ambiente